Para a construção de uma sociedade mais preocupada e responsável com o meio ambiente, a valorização das expressões socioculturais e produção do conhecimento científico é fundamental. Um dos principais comprometimentos do Programa Rural Sustentável (PRS) é articular as tecnologias agrícolas de baixa emissão de carbono com a realidade social, cultural e ambiental de cada um dos territórios onde atua.
Incluir as demandas específicas de cada localidade no plano de ação é uma das estratégias priorizadas pelos Projetos do PRS, em conjunto com a escuta ativa e respeitosa da população, seus saberes do território e práticas produtivas tradicionais.
Com o Projeto Rural Sustentável – Amazônia e o Projeto Rural Sustentável – Caatinga, o Programa comprova que é possível uma agricultura e pecuária de reduzido impacto ambiental construída a partir dos saberes locais com as tecnologias produtivas de baixa emissão de carbono propostas. O mesmo acontece com o Projeto Rural Sustentável – Cerrado, que traz consigo uma particularidade: o lançamento de pesquisas científicas construídas nos territórios alcançados no bioma.
Nesta matéria, apresentaremos como o Programa Rural Sustentável contribui — por meio dos Projetos na Caatinga, Amazônia e Cerrado — com a produção científica e a valorização dos conhecimentos tradicionais em sua atuação pelo desenvolvimento sustentável, autonomia produtiva no campo, qualidade de vida e erradicação da pobreza.
Cultura e tecnologia no Projeto Rural Sustentável – Caatinga (2019-2023)
A trajetória do Projeto Rural Sustentável – Caatinga foi permeada pela valorização dos conhecimentos locais do sertão.
Parte integrante do conjunto de estratégias desenvolvido pelos produtores e produtoras catingueiros, as tecnologias sociais de convivência com o semiárido compõem os saberes sertanejos passados de geração em geração. Articuladas com as iniciativas do Projeto, potencializaram significativamente a eficiência e o alcance das Tecnologias Agrícolas de Baixo Carbono (TecABC), assim como a busca por soluções sustentáveis para o campo.
O respeito aos saberes tradicionais foi uma peça chave para fortalecer a proximidade entre os produtores locais e os técnicos do PRS, especialmente a partir das atividades práticas, dias de campo e visitas às instituições e cooperativas parceiras. Pluralidade de vivências marcaram as atividades de capacitação na Caatinga, que receberam agricultores familiares, quilombolas, indígenas, povos de fundo de pasto, mulheres empreendedoras e jovens do campo.
Articulado com as organizações e arranjos produtivos locais, o Projeto fortificou o trabalho de agentes que já se mobilizavam pela agricultura sustentável, como é o caso da agricultora Maria Silvanete Lermen, de Exu, no estado de Pernambuco.
“Sou agricultora agroflorestal, sou negra, essa é outra reafirmação que tenho sempre, enquanto povos de territórios. Quando o Projeto chegou aqui, a gente já estava nesse processo de organização, mas ele trouxe a oportunidade de ampliarmos e sairmos da comunidade. Também percebemos uma melhoria de vida. Os agricultores tiveram acesso a alguns tipos de comercialização, que antes não conseguiam. Passamos a ver, entre nós mesmos, como podemos trabalhar com nossos filhos, jovens e também com os mais velhos”, relembra a agroflorestora.
Respeito aos saberes do território: o Projeto Rural Sustentável – Amazônia (2022-presente)
Para viabilizar um futuro saudável e sustentável, é preciso consolidar a cultura de respeito à natureza. O Projeto Rural Sustentável – Amazônia sabe que um dos caminhos para alcançar esse propósito é a escuta ativa dos conhecimentos e experiências nos diversos territórios. E isso inclui, também, aprender com quem já produz de forma responsável e ambientalmente consciente.
A Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) e os Agentes de Assistência Técnica (ATECs) participam do conjunto de estratégias que colocam em prática o aprendizado e o diálogo nos territórios. Atuam como uma ponte na relação entre conhecimentos tradicionais e os métodos e tecnologias científicas de baixa emissão de carbono propostos pelo Projeto.
Bom aprendiz e ouvinte, o PRS – Amazônia analisa em quais espaços consegue inovar e contribuir às práticas de produção e agroextrativismo sustentáveis. Trabalha em conjunto a partir das demandas levantadas pelas 18 organizações socioprodutivas (OSPS) parceiras, avaliando em qual etapa produtiva se encaixa. Do cultivo até a comercialização, o Projeto potencializa aquilo que já é realizado nos locais de atuação.
Paralelamente, a educação é um eixo fundamental no PRS – Amazônia. Iniciado em agosto deste ano, o Mestrado Profissional é resultado da parceria entre o PRS – Amazônia e a Universidade Federal do Pará (UFPA). Tem como objetivo aprofundar os estudos do público beneficiário do Projeto nas temáticas ligadas aos efeitos das mudanças climáticas, conservação dos recursos naturais e sociobiodiversidade da Amazônia brasileira.
O Mestrado Profissional do Projeto já vem trazendo ricas experiências. Reinaldo Marinho, produtor pesqueiro e membro do Instituto Mamirauá, nos conta como foi a primeira semana de aula. “Eu vejo as práticas acadêmicas fazendo conexão com o nosso campo de atuação. E eu acredito que essas informações repassadas, tanto em sala de aula como na visita técnica nos territórios, estão contribuindo bastante para que possamos refletir sobre como conectar os aprendizados que temos com os saberes das comunidades, desses territórios, dos quais estamos inseridos como agentes locais”, relata.
Ciência em apoio às diversas vivências no campo: o Projeto Rural Sustentável – Cerrado (2019-presente)
A educação é um dos pilares para o desenvolvimento sustentável. “Foi muito enriquecedor conviver com outros colegas de outras realidades e outras formações [ao longo do curso]. Contribuiu muito, tanto pessoalmente como profissionalmente”, conta Ana Carla Vidotti, mestre pelo Mestrado Profissional do Projeto Rural Sustentável – Cerrado, em parceria com a Universidade Federal de Lavras.
“Agora, eu tenho uma visão um pouco mais crítica de todo o sistema onde eu estou inserida. Sem dúvida, vou poder auxiliar os produtores com os quais trabalho de uma maneira mais assertiva, sabendo buscar respostas complexas e que possam ser aplicadas na vivência deles, no campo”, complementa.
Mitigação dos gases de efeito estufa, estratégias para redução do desmatamento e práticas produtivas sustentáveis e de baixa emissão de carbono fazem parte das temáticas discutidas ao longo do Mestrado Profissional do PRS – Cerrado. Debates e pesquisas científicas são fundamentais na jornada rumo à sustentabilidade, produtividade e inclusão no bioma, assim como a troca de histórias, conhecimentos e saberes nos territórios.
Essas experiências compõem as pesquisas científicas dos participantes e beneficiários do Projeto, que, inclusive, já estão disponíveis ao acesso gratuito. Em agosto deste ano, o PRS – Cerrado lançou o livro “Inovações Rurais no Cerrado: Pesquisas para a prática sustentável”, símbolo do encerramento das ações de pesquisa na região. O livro apresenta 35 estudos, conduzidos por mais de 30 instituições durante aproximadamente dois anos.
É o resultado do trabalho de pesquisadores, analistas, técnicos, bolsistas e consultores que se dedicaram à promoção do desenvolvimento sustentável no campo do Cerrado. Numa perspectiva geral, são mais de 600 pessoas envolvidas nessa conquista conjunta. E fica um desejo, ao fim dessa etapa: que frutifique, germinando em novas pesquisas, projetos e políticas públicas.
Por um futuro moldado pela cultura de respeito à natureza
No contexto de mudanças climáticas — quando eventos extremos se tornam mais frequentes —, melhorar o relacionamento humano com a natureza é fundamental para alcançar esse futuro possível, que mitiga as alterações do clima, adapta os diversos espaços para esse cenário e possibilita qualidade de vida e dignidade humana. É converter um sonho de futuro em presente, respeitando a nossa e as futuras gerações.
A cultura de respeito à natureza influencia diretamente no desenvolvimento econômico e científico, fortalecendo a agropecuária sustentável e reforçando o comprometimento com práticas produtivas que busquem a baixa emissão de gases do efeito estufa e o reduzido impacto ambiental.
O Programa Rural Sustentável caminha nesta direção.
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