Programa Rural Sustentável promove recuperação de áreas degradadas em biomas brasileiros

Apoio aos Sistemas Agroflorestais na Amazônia e Recuperação de Áreas Degradadas e Pastagens no Cerrado são algumas das estratégias impulsionadas

O Brasil apresenta milhões de hectares de área suscetíveis ao processo de degradação – e esse processo é intensificado pelo desmatamento. A restauração desses territórios pode ser um importante caminho para controlar o desmatamento nos biomas, especialmente na Amazônia e no Cerrado. Consciente desse cenário, o Programa Rural Sustentável (PRS) implementa diversas tecnologias agrícolas e práticas produtivas sustentáveis para incentivar o agroextrativismo, a agricultura e pecuária de baixa emissão de carbono e de reduzido impacto ambiental, impulsionando, também, a autonomia e sustentabilidade financeira local.

Há mais de uma década comprometido com a sustentabilidade, o Programa atua diretamente na contenção de degradações ambientais, especialmente o desmatamento. Metodologias produtivas como Sistemas Agroflorestais (SAFs), Recuperação de Áreas Degradadas — seja por meio da implementação de florestas (RAD – F) ou por pastagens (RAD – P) — e Recuperação de Pastagens Degradadas (RPD) estão presentes no plano de ação da iniciativa. Para a realidade do Projeto Rural Sustentável – Amazônia (PRS – Amazônia), as agroflorestas são uma das estratégias utilizadas para lidar com a restauração e produção consciente, ao passo que as demais tecnologias mencionadas são melhor aplicadas no contexto do Projeto Rural Sustentável – Cerrado (PRS – Cerrado).

Os resultados são sentidos individual e comunitariamente. O Programa apresenta diversos casos em que produtores e produtoras beneficiários aumentaram comprovadamente não só a produtividade e a renda, como também os indicadores de sustentabilidade em suas propriedades. Esse cenário impulsiona o interesse dos participantes, ampliando a recepção positiva da assistência técnica e a implantação das tecnologias, explicam os técnicos dos Projetos.

Nesta matéria — continuação de nosso último texto —, conversaremos com integrantes dos Projetos para entender um pouco melhor como as tecnologias de baixo impacto ambiental e emissão de carbono são incluídas no cotidiano produtivo amazônico e cerratense, a partir da sustentabilidade no extrativismo, na agricultura familiar e na agropecuária sustentável.

O que é degradação ambiental? 

 

A degradação ambiental é, majoritariamente, causada pela ação humana. Diversos fatores caracterizam áreas degradadas — a partir da especificidade do local analisado —, como: qualidade do solo (solos erodidos, empobrecidos, instáveis, improdutivos ou com baixa biodiversidade), disponibilidade hídrica dos ecossistemas, saúde dos corpos d’água, presença da biodiversidade e qualidade do ar.

 

Outro aspecto que pode identificar um território degradado é a perda da capacidade de regeneração natural, quando esse processo pode não acontecer ou ser bastante lento e necessitar de intervenções humanas. Desmatamento, focos de fogo, invasão de espécies exóticas, extração de madeira, estresse hídrico, contaminação do solo e das águas por agrotóxicos e proximidade às áreas agropecuárias, de rodovias ou polos industriais são alguns dos principais atores de degradação ambiental nos biomas brasileiros.

Propriedade com Recuperação de Pastagem Degradada e Integração Lavoura-Pecuária no Projeto Rural Sustentável - Cerrado, em Buritizinho, Goiás. Essa é uma das tecnologias apoiadas para contenção do desmatamento e da degradação ambiental no bioma
Propriedade com Recuperação de Pastagem Degradada e Integração Lavoura-Pecuária no Projeto Rural Sustentável - Cerrado, em Buritizinho, Goiás. Essa é uma das tecnologias apoiadas para contenção do desmatamento e da degradação ambiental no bioma

 

Recuperação de áreas degradadas para conter o desmatamento no Projeto Rural Sustentável – Cerrado (PRS – Cerrado)

Aproximadamente 28 milhões de hectares de pastagens degradadas no país têm potencial para restabelecimento de culturas agrícolas, aponta estudo da Embrapa (2024). Essa conversão poderia aumentar em 35% a área total plantada com grãos no país, ao comparar com a safra 2022/23, conciliando, assim, produtividade com a contenção do desmatamento nos biomas brasileiros. 

Mato Grosso (5,1 milhões de ha), Goiás (4,7 milhões de ha), Mato Grosso do Sul (4,3 milhões de ha), Minas Gerais (4,0 milhões de ha) e Pará (2,1 milhões de ha) são os estados que apresentam maiores áreas em degradação. Considerando a possibilidade de reaproveitamento agrícola desses espaços, os estados de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás são os que mostram maior potencial para produção em áreas a serem recuperadas: 92%, 69% e 66%, respectivamente.

Atuando em 25,7% do território brasileiro, o PRS – Cerrado busca contribuir com o aumento da produção de pequenos e médios produtores no bioma a partir de práticas sustentáveis, especificamente com as tecnologias de baixo carbono. 101 municípios presentes nos estados de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul fazem parte do campo de ação do Projeto. Os beneficiários contam com assistência técnica, capacitação e ações de fortalecimento às 40 Organizações Socioprodutivas (OSP) incluídas — esse aparato de estratégias contribui para diferentes frentes de impacto.

O Programa de Capacitação complementa esse alcance. “O Projeto atua na contenção da degradação ambiental capacitando técnicos e produtores — via Ensino a Distância (EaDs), Cursos presenciais, Mestrado Profissional, entre outras iniciativas de capacitação —, para que se familiarizem às tecnologias de baixa emissão de carbono incentivadas”, explica Rafael Romão Rodrigues, gerente de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) do PRS – Cerrado.

As pastagens brasileiras cobrem cerca de 179 milhões de hectares, de acordo com dados do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (LAPIG) — e cerca de 64% desse quantitativo (115,4 milhões de hectares) apresenta algum nível de degradação. Sistemas Agroflorestais (SAFs), Recuperação de Pastagens Degradadas (RPD), Recuperação de Áreas Degradadas (RAD) e as integrações Lavoura-Pecuária (ILP), Pecuária-Floresta (IPF), Lavoura-Floresta (ILF) e Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) são estratégias importantes para lidar com os territórios que já enfrentam processos de degradação ambiental.

Incentivar a recuperação das áreas já abertas, em vez de interferir na vegetação nativa, também é um mecanismo de prevenção à degradação ambiental, explica Isabella Andrade, Assessora de ATER no Projeto. “Uma das métricas utilizadas para análise dos resultados obtidos pela atuação do projeto em campo é a de desmatamento evitado. Aliando informação e implantação de técnicas sustentáveis em campo, o produtor e a produtora reduzem o desmatamento em sua propriedade, protege o solo e previne a degradação ambiental”, complementa. 

No Cerrado, o processo de implantação de tecnologias de recuperação, tanto de áreas degradadas quanto de pastagens, é iniciado a partir da assistência técnica gratuita. Os técnicos das empresas contratadas fazem visitas periódicas aos produtores e, em conjunto, traçam diagnósticos sobre a situação das propriedades e elaboram Planos de Adequação e Implantação direcionados às realidades encontradas, com possíveis atividades a serem elaboradas.

“Algumas técnicas de Recuperação de Áreas Degradadas envolvem cuidados com o solo — coleta e análise de solo, correção do pH e dos nutrientes do solo —, bem como o cercamento da área degradada, controle de espécies invasoras, uso de sementes nativas e plantio de espécies predominantemente da região a ser recuperada”, detalha Rafael. 

Além do potencial de desenvolvimento social e econômico, recuperar e restaurar as áreas degradadas no Cerrado — e nos demais biomas — é fundamental para o cenário climático e ambiental. Cumpre papel importante na mitigação das emissões de gases do efeito estufa, viabilização de serviços ecossistêmicos (especialmente hídricos e do solo), na proteção e no retorno da biodiversidade nos territórios e incentivo a uma nova economia. 

Nos municípios alcançados pelo Projeto Rural Sustentável – Cerrado, práticas de recuperação também significam fortalecer o relacionamento comunitário.

“Há diversos casos em que a implantação das tecnologias incentivadas pelo projeto comprovadamente melhoraram não só a produtividade e a renda das propriedades, mas também os indicadores de sustentabilidade que envolvem uma propriedade rural. Além disso, o incentivo à implantação das tecnologias está associado a questões sociais, como maior engajamento na comunidade e pertencimento à região em que estão presentes os beneficiários do PRS”, destaca Isabella.

Acompanhada pelo Projeto Rural Sustentável - Amazônia, agrofloresta com cultivo de café, em Rondônia, concilia biodiversidade e produção.

 

Sociobioeconomia e agroecologia no Projeto Rural Sustentável – Amazônia (PRS – Amazônia)

2024 registrou recordes de degradação florestal na Amazônia. De acordo com o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), de janeiro a setembro, 26.246 km² de floresta foram degradados, atingindo a maior marca em 15 anos. Os dados, divulgados em outubro de 2024, indicam que 77% da degradação se concentrou em setembro e o principal vetor foram os incêndios florestais. O Instituto considera, no mapeamento, agentes de destruição gradual, como: focos de fogo, remoção de árvores para o setor madeireiro e efeitos das mudanças climáticas.

Mobilizado com o objetivo de fortalecer as cadeias produtivas da castanha-do-Brasil, pirarucu de manejo, açaí, cacau, café e peixes redondos na Amazônia Legal, o Projeto Rural Sustentável – Amazônia chega nos estados do Amazonas, Pará e Rondônia. Trabalha em conjunto com 18 Organizações Socioprodutivas (OSP) no bioma, priorizando a inclusão e a sustentabilidade, com foco em ações junto às comunidades tradicionais, aos povos indígenas e às organizações lideradas por mulheres e juventudes.

O Projeto busca promover a sociobioeconomia regional e apoiar técnicas de manejo sustentável já desenvolvidas localmente, na agricultura familiar e no agroextrativismo — sempre considerando e adaptando as estratégias às realidades, aos contextos e às especificidades de cada território. Uma das tecnologias agrícolas aliadas nesse processo — mas não excludente — e muito aplicada no bioma é o Sistema Agroflorestal, comprovado eficiente tanto na recuperação de áreas degradadas quanto no processo de evitar agentes de degradação (especialmente o deflorestamento).

Guilherme Pousada, coordenador de Assistência Técnica e Extensão Rural, explica que, apesar do Projeto Rural Sustentável – Amazônia ter como principal modo de ação evitar o desmatamento, algumas das organizações socioprodutivas parceiras já experienciam um contexto produtivo em territórios degradados. Nesse cenário, o trabalho em conjunto pode ser considerado, de certa forma, como um modo de restauro e recuperação da área — especialmente a partir da Assistência Técnica. Com ela, o Projeto busca unir três importantes forças para o desenvolvimento no bioma: os saberes tradicionais e locais das famílias, os conhecimentos técnicos e estratégias de mercado.

“A Assistência Técnica e Extensão Rural do Projeto foca em práticas sustentáveis. Então a gente utiliza metodologias e manejos que não degradam o meio ambiente. Pelo contrário, vão potencializar aquele ecossistema para ele ter uma recuperação comparada com sua fase inicial. Os SAFs se incluem nisso por serem práticas de manejo sustentável, trabalhando com a ideia de sucessão ecológica e olhando para aquele ecossistema a partir dos processos ecológicos de uma floresta”, Guilherme acrescenta.

Um dos princípios para a implementação de agroflorestas é a alta biodiversidade de espécies na área produtiva. Nelas, árvores são plantadas ou manejadas em associação com culturas agrícolas ou forrageiras, de modo que trabalhem complementando umas às outras. Seu planejamento deve considerar as características do terreno (solo, clima, manutenção hídrica, bioma e espécies), lógica de produção, mercado, objetivo, disponibilidade de recursos, o que será produzido e legislação.

“Nos locais onde trabalhamos com cacau, quando formos fazer o plantio de uma nova área, pensaremos a partir de um sistema agroflorestal em que o cacau será a principal espécie, mas a gente vai plantar espécies ali que vão potencializar o crescimento e a produção do cacau e também a diversificação de renda do agricultor”, narra o coordenador de ATER. A nível de contexto, algumas famílias agricultoras beneficiárias do Projeto plantam bananeiras junto aos cacaueiros: fora da safra do cacau, a renda é baseada na colheita das bananas.

Além de apoiar a sustentabilidade produtiva, os Sistemas Agroflorestais favorecem a resiliência biológica e climática do território onde estão inseridos, recuperando o solo e as funções ecossistêmicas hidrológicas, apoiando a qualidade do ar e incentivando a volta da biodiversidade. Em conjunto, promove e fortalece a segurança financeira dos produtores, ao estimular o desenvolvimento social e econômico no território a partir da diversificação de renda e geração de empregos.

A agroecologia também é uma estratégia importante para a garantia da segurança e soberania alimentar e nutricional nas comunidades onde são aplicadas. Contribui, por consequência, na luta contra à fome e à miséria. No contexto de valorização da sociobiodiversidade e de técnicas produtivas sustentáveis, também pode significar uma alternativa viável a ser colocada em prática. Uma transição dos sistemas agropecuários convencionais — e dos corretores químicos de solo, irrigações predatórias, uso exaustivo da terra, agrotóxicos, abertura de áreas nativas e grande emissão de gases do efeito estufa.

As tecnologias produtivas sustentáveis servem como exemplos de mudança em contextos e realidades próximas a práticas degradantes do meio ambiente. É o que o coordenador Guilherme relembra com um exemplo prático. 

“O Projeto trabalha com a organização socioprodutiva Associação das Mulheres Produtoras de Polpa de Fruta (AMPPF), em São Félix do Xingu. É uma associação de mulheres que estão num contexto do agronegócio, em volta delas é tudo monocultivo. Então, elas desenvolverem práticas sustentáveis, de beneficiamento da paisagem, vai incentivar o próprio território a ver que existem práticas possíveis e eficientes para a produção, que usam menos insumos [químicos] e que degradam menos o meio ambiente”, finaliza.

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