Assistência técnica do Programa Rural Sustentável alcança 21% do território brasileiro

Trabalho do PRS impulsionou Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) em 252 municípios brasileiros, ao longo de sua história

O Programa Rural Sustentável (PRS) trabalha há mais de 12 anos pelo fortalecimento do extrativismo e da agropecuária sustentável nos biomas Amazônia, Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica. Um dos principais eixos de atuação é fornecer Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) a cada um dos municípios participantes dos Projetos, conectando os produtores e produtoras beneficiários a diversos aprendizados e novas tecnologias. 

Até aqui, já alcançou 21% do Brasil. Começando com o Projeto Rural Sustentável – Mata Atlântica e Amazônia (2012-2019) e dando sequência com o Projeto Rural Sustentável – Cerrado (2019-presente), Projeto Rural Sustentável – Caatinga (2019-2023) e Projeto Rural Sustentável – Amazônia (2022-presente), o Programa atua pela redução do impacto ambiental e climático gerado no setor produtivo e pela melhor qualidade de vida no meio rural.

Rumo a esse objetivo, o Programa incide diretamente na redução de gases do efeito estufa emitidos — ao implementar tecnologias agrícolas de baixo carbono —, no fortalecimento da presença dos produtores no mercado, na promoção das atividades de capacitação e na ampliação do acesso à assistência técnica. Esta última é uma ferramenta muito importante para a democratização do conhecimento no campo.

Por isso, nesta matéria, vamos nos aproximar da importância e do impacto da Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) nos quatro biomas incluídos pelo Programa.

Conhecimento tradicional e tecnologias inovadoras para o agroextrativismo no PRS – Amazônia (2022-presente)

Consciente das especificidades de cada território e de cada organização socioprodutiva (OSP) inserida no Projeto Rural Sustentável – Amazônia (PRS – Amazônia), a primeira trilha de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) foi iniciada em janeiro deste ano. Nos estados do Amazonas, Pará e Rondônia, as atividades são aplicadas e desenvolvidas a partir do contexto de cada família agroextrativista e produtora.

Nessa trilha, Manicoré, no Amazonas (AM), foi um dos primeiros territórios a receber Oficinas de Diagnóstico. Uma das participantes desse encontro foi Neuda França de Souza, segunda secretária da diretoria da Associação de Moradores Agroextrativistas da Comunidade de Repartimento — organização inserida na cadeia produtiva da castanha-do-brasil e parceira do Projeto.

Para Neuda, a assistência técnica mobilizada pelo PRS – Amazônia representa uma significativa oportunidade para fortalecer a presença da castanha no mercado e potencializar o retorno financeiro do produto. “Antes nós não tínhamos a saída de venda do produto, porque o preço era baixo. Agora, o Projeto pode nos ajudar a abrir nossa mente [nessa etapa dos negócios]”, analisa a extrativista.

Junto às 18 organizações socioprodutivas beneficiárias, a ATER pretende apoiar as cadeias produtivas do açaí, cacau, pirarucu de manejo, castanha-do-brasil, café e peixes redondos, reconhecendo as oportunidades de mercado, técnicas produtivas sustentáveis e conhecimentos tradicionais. 873 famílias receberão apoio dos Agentes de Assistência Técnica (ATEC) do Projeto, em busca de melhorar, inovar e fortalecer a gestão de negócios, produção, capacitação técnica e comercialização das cadeias produtivas as quais fazem parte. 

A trilha de assistência é composta por diferentes e complexas etapas. Envolve o diagnóstico contextual e produtivo de cada família e organização socioprodutiva, a construção de um Plano de Implementação de práticas sustentáveis, avaliações, Dias de Campo e visitas de acompanhamento. Todo esse processo é atravessado pelo comprometimento com o diálogo e respeito às demandas e objetivos de cada grupo atendido pela ATER, o que a transforma em uma construção conjunta em direção a metas compartilhadas. Algumas delas são: melhorar a qualidade de vida local, aumentar a produção de forma sustentável, escoar os produtos eficientemente e marcar presença no mercado.

Pelas experiências compartilhadas até agora, Guilherme Pousada, coordenador de Assistência Técnica e Extensão Rural, percebe uma curiosidade em relação ao uso bioinstrumentos agroecológicos para controlar a presença de pragas na produção agrícola — ao invés de utilizar agrotóxicos. Mas esse interesse, entretanto, depende muito dos conhecimentos prévios de cada família participante — e é aí que a Assistência Técnica atua.

“Enquanto algumas famílias têm uma visão de que é impossível se produzir em quantidade e em qualidade sem agrotóxicos, outras famílias apresentam uma percepção diferente, a de que existem outras formas de produzir e que não são prejudiciais ao meio ambiente. Mas o objetivo da assistência técnica é trazer esse conhecimento para eles. E existe esse interesse por parte dos produtores e produtoras”, contextualiza o coordenador. 

Intercâmbio de conhecimento e experiências para uma agropecuária responsável: o PRS – Cerrado (2019-presente)

“A Assistência vai de encontro à oportunidade do produtor e produtora implantarem e ampliarem áreas com tecnologias de baixa emissão de carbono. Estimula a consciência ambiental e econômica ao otimizar o uso de áreas já existentes — tornando-as mais produtivas e rentáveis —, e incentiva o uso cada vez menor de produtos químicos”, inicia Josyany Mendes, coordenadora estadual do Projeto Rural Sustentável – Cerrado (PRS – Cerrado) em Goiás. “Ações essas que possibilitam reduzir o impacto ambiental — o desmatamento, na prática —, aumentar a conservação da biodiversidade local e contribuir para a mitigação das emissões de gases de efeito estufa, numa escala global”, complementa a coordenadora.

O Projeto Rural Sustentável – Cerrado busca transformar a agropecuária nos territórios onde atua — Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Implementa e apoia diversas tecnologias agrícolas de baixo carbono, conciliando, assim, maior eficiência produtiva no campo com sustentabilidade e a melhora da qualidade de vida das famílias agricultoras.

A Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) é uma peça fundamental para cumprir esses objetivos. É por meio desse eixo de trabalho que os produtores e produtoras rurais articulam as suas experiências com os conhecimentos mobilizados pelos Agentes de Assistência Técnica (ATEC) do Projeto, a partir de visitas presenciais e atendimentos virtuais. Para socializar informações e aproximar ainda mais os envolvidos — incluindo as 40 Organizações Socioprodutivas (OSPs) apoiadas —, também são realizadas ações integrativas como os Dias de Campo.

Muita escuta e respeito mútuo permeiam e conectam tanto trabalho em conjunto. Até então, mais de 670 Dias de Campo foram realizados, sensibilizando cerca de 19 mil pessoas nas diversas atividades promovidas. Esse impacto — e suas histórias — fica na memória dos profissionais do Projeto: Josyany conta que uma das experiências que a marcou foi acompanhar a mudança de compreensão dos produtores e produtoras a respeito do uso de bioinsumos, que agora os veem como uma alternativa mais viável econômica e sustentavelmente.

“Inclusive, esses insumos vêm sendo produzidos atualmente em algumas  propriedades assistidas. Além disso, sempre me emociono com depoimentos dos produtores, principalmente os mais humildes, de como as informações da Assistência Técnica possibilitaram melhorar aquela produção do queijinho que é vendido na feira, ou o tanto que a vaca de estimação está produzindo mais leite, ou mesmo o comentário do pasto estar mais ‘verdinho’”, rememora a coordenadora.

Tecnologias sociais para maior produtividade e melhor qualidade de vida no semiárido: o PRS – Caatinga

Durante quatro anos (2019-2023), mais de 1.500 famílias produtoras rurais, em 31 municípios do semiárido brasileiro, foram sensibilizadas pelas ações do Projeto Rural Sustentável – Caatinga (PRS – Caatinga). Atuante nos estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco, Piauí e Sergipe, o Projeto teve como missão mitigar as emissões de gases do efeito estufa na agricultura e pecuária, viabilizar a economia sustentável no bioma e melhorar a qualidade de vida, promovendo mais dignidade e contribuindo com a redução da pobreza local.

Valorizar os conhecimentos sertanejos, exercitar escuta ativa e criar estratégias em conjunto com as demandas da comunidade foram premissas fundamentais no trabalho do PRS – Caatinga. E se mantiveram nas práticas de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) no bioma. Nesse cenário, os  700 profissionais de ATER — capacitados pelo Projeto — desempenharam papel importante na implementação de Tecnologias Agrícolas de Baixo Carbono (TecABC) no território, trabalhando, também, em parceria com os 20 Arranjos Produtivos Locais participantes da iniciativa. 

Um dos marcos importantes na trajetória do Projeto, especialmente ligado ao eixo de capacitação, foi o ‘Curso de Especialização em Tecnologias de Baixo Carbono: Valorizando a Convivência com o Semiárido’, realizado em parceria com a Universidade do Vale do São Francisco (Univasf). Essa atividade integrou um conjunto de ações do Projeto a fim de fortalecer os agricultores familiares da Caatinga, inserindo-os no debate climático e munindo as comunidades com diversas técnicas sustentáveis adaptadas às realidades locais.

Diversas famílias construíram e potencializaram, com o apoio dos técnicos, sua fonte de alimentação diária e a autonomia financeira. Essa é a história de vida da agricultora Suely Aquino, moradora do município de Monteirópolis, em Alagoas (AL). 

“Antes, a gente não tinha nada, era apenas um quintal pelado, como eu costumo falar. A área onde hoje planto era um curral, onde criava meus bezerros. Eu tenho um canteiro e lá eu planto milho, feijão-de-corda, tomate-cereja, abóbora, alface, couve. Eu sou da agricultura, essa é a minha raiz. Só precisava de um incentivo, de alguém que me orientasse e que me ajudasse a fazer”, relembra. “Aí vem o PRS com esses técnicos, com essas pessoas maravilhosas que me ajudaram e me ensinaram a trabalhar certo. Eu achava que estava trabalhando certo, mas não estava. E eles me ensinaram”, finaliza Suely Aquino, participante do Projeto.

Memória de um legado nas florestas tropicais brasileiras: o PRS – Mata Atlântica e Amazônia (2012-2019)

“Hoje foi minha primeira oficina com o Rural Sustentável e eu fiquei impressionado com o método de trabalho, com a metodologia de envolver as pessoas no debate, e com a boa participação de quem veio, expondo suas ideias e o que pensa. E também de terem tocado em temas que são poucos debatidos no meio rural, como educação, jovens e a participação da mulher. Não só a participação, mas a igualdade de gênero na economia, na vida social e familiar. Fiquei impressionado, estou muito contente e espero participar em outros momentos de mais debates como este”.

Este é o depoimento de Luis Paulo de Almeida, ao final da oficina realizada em Vacaria, no Rio Grande do Sul (RS), em novembro de 2018. Luis é uma das 3.844 pessoas que participaram das oficinas familiares organizadas pelo Projeto Rural Sustentável – Mata Atlântica e Amazônia. Entre 2012 e 2019, o primeiro Projeto do Programa Rural Sustentável (PRS) alcançou 70 municípios: 30 inseridos no bioma amazônico — nos estados do Pará, Mato Grosso e Rondônia — e 40 pertencentes ao bioma atlântico — na Bahia, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul.

Na Amazônia e na Mata Atlântica, no período de 2012 a 2019, o Projeto voltou-se para a promoção de uma agropecuária sustentável, incentivando a conservação das florestas; a redução do desmatamento, nas áreas do Projeto, à zero; e a implementação de tecnologias de baixa emissão de carbono. Em direção ao objetivo de aumentar a autonomia produtiva e sustentabilidade nas regiões, fortalecer a renda familiar local e minimizar os impactos ambientais e climáticos do setor produtivo, a Assistência Técnica e Extensão Rural no Projeto deixou um legado. 

Foram 1.393 e 1.205 Agentes de Assistência Técnica (ATEC) treinados na Mata Atlântica e Amazônia, respectivamente. Considerando todas as ações de capacitação e de assistência — incluindo as oficinas —, o Projeto alcançou 22.677 pessoas no primeiro bioma e sensibilizou 13.059 no bioma amazônico. Quanto aos Dias de Campo (DCs), mobilizou 541 na Amazônia e 624 na Mata Atlântica. Cada uma dessas atividades foi fruto de muito trabalho coletivo e, mesmo após 12 anos desde o início dos trabalhos nos biomas florestais, ainda gera impacto. Impacto no cotidiano das famílias atendidas, registrado na memória das pessoas e transformado em referência para projetos futuros.

Aproveitando o poder da memória, finalizamos esta matéria com o relato do produtor Paolo Renee, de Marabá, no Pará (PA), que participou de um dos Dias de Campo realizados no município. 

“O dia de hoje foi muito interessante, esse Dia de Campo que tivemos aqui, na casa do senhor Sebastião, onde podemos tirar algumas dúvidas e ver o plantio e o manejo. O que eu achei mais interessante foi a forma que ele [Sebastião] está aplicando o manejo sustentável, onde ele tem o cupuaçu, a castanha, o mogno e o açaí, muito produtivo já. E eu até aconselho aos nossos amigos que têm a terra que façam o mesmo processo. Vamos estar ajudando a preservar o nosso meio ambiente. É um dia muito interessante e produtivo”, contou Paolo Renee, em 2018.

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