Dia da Caatinga: Projeto fortalece agropecuária sustentável e valoriza a sociobiodiversidade sertaneja

O Programa Rural Sustentável impactou a vida de mais de 1.500 famílias agricultoras na Caatinga e evitou o desmatamento de mais de 240 hectares de vegetação nativa

No bioma mais brasileiro do país, o Programa Rural Sustentável (PRS), por meio do Projeto Rural Sustentável – Caatinga (PRS – Caatinga), atuou durante quatro anos (2019-2023) em busca de promover mais sustentabilidade nas práticas agrícolas do território, unindo conhecimentos tradicionais com as Tecnologias Agrícolas de Baixo Carbono (TecABC).

Preocupado com a qualidade de vida da população sertaneja, o Projeto também teve como missão valorizar a cultura e saberes do sertão, reduzir a pobreza local, apoiar a autonomia produtiva agrícola, contribuir para a segurança hídrica e alimentar regional e promover maior resiliência climática no bioma. Como resultado, mais de 1.500 famílias produtoras rurais em 31 municípios do semiárido brasileiro foram beneficiadas diretamente pelas ações do PRS – Caatinga.

Nos estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco, Piauí e Sergipe, envolveu ativamente mais de 5 mil pessoas em suas iniciativas e incidiu diretamente na contenção dos principais vetores de degradação ambiental do bioma. Essas ações alinharam-se com a percepção da importância de mobilizar uma transição sustentável no setor agrícola e pecuário, conciliando o desenvolvimento socioeconômico com a conservação do bioma.

A Caatinga é considerada a região semiárida mais biodiversa do mundo, especialmente por ser um território mais úmido em comparação com áreas semelhantes ao redor do planeta. Exerce papel fundamental para a conservação do solo e da água, abriga uma pluralidade de seres vivos — incluindo espécies endêmicas, que só existem nas terras catingueiras. 

Das 27 milhões de pessoas que habitam o bioma (Ministério do Meio Ambiente, 2022), 26% trabalham no setor agropecuário, de acordo com levantamento do Climate Policy Initiative. Desse total, a agricultura familiar é responsável por 1,4 milhão de estabelecimentos, representando 36,7% de todos os produtores rurais no bioma. 

A agricultura familiar é responsável pela segurança financeira, alimentar e nutricional de milhões de pessoas no país. Entretanto, o estudo ressalta que os produtores familiares representam um grupo vulnerável e exposto às mudanças climáticas. Parte dessa vulnerabilidade também está ligada ao acesso limitado a recursos financeiros, como o crédito rural e beneficiamento por conservação — que poderiam ser direcionados para expansão da produtividade, com o uso de tecnologias climáticas e de adaptação e resiliência agrícola, por exemplo. 

Entretanto, a vulnerabilidade mais expressiva está ligada à pobreza no bioma, por apresentar um índice de 22,8 de pobreza na avaliação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Em comparação com o nível nacional — de 6,6 —, o bioma apresenta um dos maiores indicadores do país, de acordo com dados de 2010 . 

Apesar do cenário preocupante, a efervescente produção de saberes do campo na Caatinga pode ser uma grande força para construir uma adaptação climática no setor agrícola e pecuário do bioma. Ao aliar os conhecimentos tradicionais com tecnologias de baixa emissão de carbono e as tecnologias sociais de convivência com o semiárido, é possível fortalecer o campo sertanejo e os produtores rurais desse importante território. 

Conservar a Caatinga de pé também significa mitigar as emissões de gases do efeito estufa do país: é o bioma brasileiro mais eficiente para sequestro de carbono. De acordo com o Observatório Nacional da Caatinga, em estudo divulgado em 2021, a cada 100 toneladas de CO2 absorvidas pelo bioma savânico, são retidos entre 45% e 60% de dióxido de carbono. O desmatamento da vegetação catingueira pode liberar 3.350 toneladas de carbono por quilômetro quadrado — o que destaca um alerta, afinal, de acordo com o Relatório Anual de Desmatamento de 2023, a Caatinga foi o terceiro bioma mais desmatado no país, com a perda de 201.687 hectares de vegetação nativa.

A consciência desse cenário socioambiental e climático a respeito da Caatinga guiou o caminho trilhado pelo Programa Rural Sustentável no bioma. Nesta matéria, você vai conhecer um pouco sobre a atuação do PRS – Caatinga e seus principais resultados e impacto. Nesta data, rememoramos o bioma com bons exemplos de sustentabilidade — para, assim, construirmos referências de transformação e de construção de um futuro possível e saudável para as próximas gerações.

 

Projeto Rural Sustentável – Caatinga (2019-2013)

A agricultura contemporânea é regenerativa e sustentável. A partir dessa máxima, o Projeto Rural Sustentável – Caatinga trabalhou por quatro anos a fim de ressaltar as riquezas do bioma, vivo, pulsante, resiliente e diverso. Sua sapiência representa uma fonte de inspiração para a adaptação climática de todo o Brasil, os saberes de seus povos indicam tecnologias sociais e práticas sustentáveis estratégicas para conservar os ecossistemas e coexistir com a natureza. 

“O que sempre nos moveu foi a convicção da importância de incluir a Caatinga e o pequeno agricultor familiar na agenda climática. É para eles e por eles que estamos aqui. Nossos resultados, que superam todas as metas estabelecidas no início deste caminho, mostram que a percepção de que o bioma tem papel relevante e estratégico na agenda ambiental estava correta”, rememora Pedro Leitão, diretor do Projeto na Caatinga.

Executado pela Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), o Projeto atuou de forma comprometida com a redução do impacto da agricultura e da pecuária tradicional no bioma. Alcançou 1.505 famílias nos estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco, Piauí e Sergipe, onde valorizou e incentivou a sociobiodiversidade local, as tecnologias sociais de convivência com o semiárido e o compartilhamento de conhecimento. Essa articulação incluiu as estratégias que incidem na segurança hídrica — como cisternas —, as que atuam pela segurança alimentar — como hortas e canteiros —, e as tecnologias que dialogam com a segurança energética das famílias, como o ecofogão e o biodigestor. 

Foram implantadas 147 tecnologias sociais — 48 estavam ligadas ao uso e manejo sustentável da água, ao passo que 99 estavam relacionadas à segurança energética dos territórios. Todo esse trabalho foi realizado em articulação com diversas pessoas e organizações. Dentre elas, as comunidades dos 31 municípios abarcados, os 700 profissionais de Assistência Técnica e Extensão Rural formados pelo Projeto e os 20 Arranjos Produtivos Locais parceiros — entidades experientes em agroecologia, tecnologias sociais de convivência com o semiárido e implementação de tecnologias agrícolas de baixa emissão de carbono.

Toda essa rede de transformação envolveu, direta e ativamente, 5.072 pessoas. Uma delas foi Fransley Vieira Félix, monitor estadual do Piauí, morador da Cidade de Aroazes (PI).  Em dois anos, atuou em seis municípios por meio do Projeto. “Implementamos mais de 100 hectares de tecnologias ABC com espécies de plantas nativas e frutíferas, com aptidão para apicultura e caprinovinocultura, beneficiando mais de 200 famílias”, relembra.

Para ele, o PRS – Caatinga deixa um importante aprendizado. “O legado do Projeto é provar que é possível uma agricultura sustentável, regenerativa, mostrando que, trabalhando com técnicas corretas, é possível ter uma ótima produção. Podemos gerar lucro e riquezas sem agredir o meio ambiente”, reflete. 

Junto ao impacto na autonomia financeira e produtiva das famílias participantes, o Projeto também incidiu diretamente na contenção do desmatamento e da degradação ambiental no bioma. Algumas das tecnologias agrícolas impulsionadas foram: Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), Manejo Sustentável de Florestas, Recuperação de Áreas Degradadas com Florestas, Manejo de Dejetos Animais e Recuperação de Áreas Degradadas com Pastagens. Como consequência direta na conservação da vegetação catingueira, o Projeto evitou, diretamente, o desmate de 244,16 hectares e conteve a emissão de 1,196 milhão de toneladas de dióxido de carbono (CO2).

Todo esse trabalho pioneiro também envolveu o protagonismo das populações sertanejas e da biodiversidade catingueira. O PRS – Caatinga direcionou diversas ações para o fortalecimento do cooperativismo e da sociobioeconomia regional, a fim de promover e ampliar o acesso ao mercado para os produtos resultantes das Tecnologias Agrícolas de Baixa Emissão de Carbono. Um dos marcos da atuação do Projeto nesse aspecto foi a organização do I Fórum de Negócios da Sociobioeconomia da Caatinga, realizado em 2023, que movimentou debates a respeito do incentivo para as cadeias produtivas ligadas a produtos catingueiros.

O cooperativismo se apresenta como uma estratégia para criar soluções e novas oportunidades de negócio. “Nesse cenário, o cooperativismo se apresenta como uma força estratégica, reconhecida pelo Projeto, por meio da qual os agricultores familiares podem aprimorar seus produtos de forma a aumentar o valor de mercado, almejando desenvolver uma plataforma produtiva regional integrada, com possibilidade de estabelecer na prática essa relação entre produção agrícola familiar e agenda climática”, afirma Luciana Villa Nova, especialista em Sociobioeconomia do PRS – Caatinga.

Esse conjunto de ações, movidas pelo compromisso de melhorar a qualidade de vida da população catingueira e fortalecer a autonomia produtiva local, traz resultados que ultrapassam números de impacto. Para Simony Alexandre, agricultora de Jaramataia, em Alagoas, fazer parte do Projeto viabilizou ampliar o horizonte de perspectivas para a produção no campo e para a autonomia das mulheres na comunidade.

“A parceria com o Projeto nos forneceu as ferramentas necessárias para o trabalho, nos capacitando, mostrando como fazer e nos incentivando a dar o nosso melhor. Fez com que a gente entendesse que o lugar em que vivemos pode prosperar. Nada está perdido, tudo pode ser revitalizado, trabalhado e dar frutos bons”, começa a agricultora. Ela conta que as atividades no território também despertaram a curiosidade das mulheres, o que abriu portas para o empoderamento feminino no campo. “Os projetos que chegaram para as mulheres mostraram que os produtos que elas cultivam para a produção de alimentos, podem ser comercializados. E isso foi um fator crucial”, destaca Simony.

Quer se aprofundar na história de atuação do Projeto Rural Sustentável – Caatinga? Conheça o livro “Uma trajetória de inovação no semiárido brasileiro”, lançado em 2024. Mais informações também estão disponíveis no site: https://prscaatinga.org.br/

 

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