Um dos principais desafios socioeconômicos e ambientais na Amazônia é consolidar a agropecuária sustentável e responsável. Consciente desse cenário, durante sete anos o Programa Rural Sustentável (PRS) atuou em 30 municípios amazônicos, com o objetivo de mobilizar uma agropecuária de baixo carbono nos estados do Pará, Mato Grosso e Rondônia que incentivasse a conservação e reduzisse o desmatamento das áreas do projeto à zero.
Por meio do Projeto Rural Sustentável – Mata Atlântica e Amazônia (2012-2019), o Programa buscou conciliar o desenvolvimento regional com o respeito à natureza e à sociobiodiversidade amazônica, promovendo, assim, maior autonomia produtiva sustentável no campo e fortalecendo a renda familiar local. Seja no dia a dia das famílias participantes ou como referência para futuras iniciativas, o legado do PRS na grande floresta continua, fruto de muito trabalho coletivo.
O Projeto demonstrou que é possível assumir a postura de desmatamento zero a partir, especialmente, da aplicação de um conjunto de tecnologias sustentáveis que aumentam a produtividade no campo. Na gigante latino-americana, impactou a vida de mais de 13 mil pessoas, trabalhando junto a pequenos e médios produtores (99% dos beneficiários).
Nesta matéria, vamos relembrar a primeira etapa de atividades do PRS na Amazônia — incluindo seus resultados e iniciativas — e discutiremos caminhos para práticas produtivas sustentáveis e de baixa emissão de carbono na maior floresta tropical do mundo.
Galeria de imagens da atuação do Projeto Rural Sustentável Mata Atlântica e Amazônia no Pará
Programa Rural Sustentável na Amazônia (2012-2019) — por uma agropecuária responsável
Presar pela produção sustentável na Amazônia é um passo fundamental na busca por um presente e futuro saudável. Importante para o país e todo o mundo, é um bioma central para a regulação climática da terra. Pulsante e rico em biodiversidade, populações, culturas, etnias, economias e diversidades, esse território enfrenta diversos desafios para sua proteção e conservação ambiental.
Nesse cenário, o setor agropecuário é um dos agentes centrais para a produtividade sustentável e de baixo impacto ambiental no bioma. Especialmente quando o assunto é conter o desmatamento e a degradação causada pela pastagem.
O Programa Rural Sustentável (PRS) — por meio do Projeto Rural Sustentável – Mata Atlântica e Amazônia (2012-2019) — atuou por sete anos na maior floresta tropical do Brasil com o objetivo de incentivar essa transição no setor. Em consonância com a sustentabilidade tecnológica e a redução do impacto ambiental das atividades produtivas, buscou diminuir a desigualdade no meio rural, conservar a biodiversidade e proteger os recursos naturais nos 30 municípios onde esteve.
Para isso, o PRS desenvolveu um conjunto de estratégias para alcançar as famílias produtoras nos estados do Mato Grosso, Pará e Rondônia. As medidas aplicadas incluíram capacitação, criação de Unidades Demonstrativas (UD) e Unidades Multiplicadoras (UM) — estruturadas com tecnologias produtivas de baixa emissão de carbono —, Áreas Sustentavelmente Manejadas, Dias de Campo (DC), Assistência Técnica e fornecimento de mudas e insumos agrícolas. Essas estratégias consideraram e respeitaram as especificidades de cada um dos territórios alcançados pelo Projeto.
Teve como principal atividade produtiva a pecuária e fortaleceu a atuação de pequenos e médios produtores amazônicos com propriedades de pequeno porte – esse grupo compõe 99% dos beneficiários.
Cada conhecimento construído na trajetória de capacitação e assistência técnica tem o potencial de se transformar em sementes pela sustentabilidade nos municípios. Como legado, o Programa capacitou mais de 10.300 produtores e produtoras rurais e 1.506 pessoas nas oficinas familiares. Com as ações de assistência técnica, treinou 1.205 Agentes de Assistência Técnica (ATEC). Considerando todas essas atividades, foram 13.059 pessoas sensibilizadas.
Ao longo da jornada de fortalecimento e promoção da autonomia e sustentabilidade no campo, foram mais de 38 milhões de reais investidos pelo Projeto Rural Sustentável – Mata Atlântica e Amazônia.
A história do PRS demonstra que é necessário maior compromisso — a nível local, nacional e global — na busca por frear a emissão dos gases do efeito estufa e a degradação ambiental na Amazônia, a fim de conter os já experienciados fenômenos extremos. Iniciativas conjuntas e interligadas fazem a diferença. Investir na economia sustentável — com destaque para a sociobiodiversidade regional — e valorizar o conhecimento tradicional amazônico são estratégias práticas e políticas que devem ser construídas e executadas em parceria com as populações locais – e que hoje está em prática com o atual Projeto Rural Sustentável – Amazônia (2020 – 2025)
Galeria de imagens da atuação do Projeto Rural Sustentável Mata Atlântica e Amazônia em Rondônia
Potenciais da economia amazônica: uma visão de commodities à sociobiodiversidade
A Amazônia é lar de mais de 29 milhões de pessoas (dados do Censo 2022) e habitat para cerca de 10% de todas as espécies de animais e plantas do mundo, segundo relatório divulgado em 2021 pelo Painel Científico para a Amazônia. Maior bioma da América Latina, tem 6,7 milhões de km² espalhados por nove países, com 4,2 milhões de km² (62%) em território brasileiro.
Fervilha saberes tradicionais e estratégias para caminhar em diálogo com a natureza: é um ecossistema relevante ambiental, social e economicamente, exercendo papel fundamental para o equilíbrio climático terrestre. Em seu amplo território, a Amazônia é rica em sociobiodiversidade e práticas produtivas sustentáveis e inclusivas, como a agricultura familiar, aquicultura e o extrativismo.
Esse mosaico heterogêneo de práticas e saberes enfrenta diversos desafios e ameaças. Ambientalmente, o colapso alertado pelo ‘ponto de não retorno’, os incêndios florestais, as altas taxas de desmatamento e a alteração no regime de chuva regional são alguns exemplos emergenciais — esses pontos são melhor explorados em nossa reportagem especial para o Dia da Amazônica deste ano. Ao analisar dados do cenário econômico, atividades produtivas de baixa emissão de carbono e extrativistas ainda expressam baixos índices na economia da Amazônia.
De acordo com o MapBiomas, o uso do solo para pastagem ocupa 14% do território da Amazônia brasileira (o equivalente a 59.071.243 hectares). A agricultura segue com 1,83% do território (7.321.600 hectares): o cultivo da soja, seguido por ‘outras lavouras temporárias’, cana de açúcar, algodão e arroz prevalecendo, respectivamente. O Mapeamento da Produção Agrícola no Bioma Amazônia, a partir da análise dos dados da Pesquisa Agrícola Municipal (PAM), aponta que, em 2022, o valor da produção agrícola dos municípios amazônicos foi de R$ 118,5 bilhões, representando 14,3% do montante total do Brasil.
Soja, milho e algodão, juntos, representaram R$ 94,1 bilhões no mesmo ano — ao passo que R$ 24,4 bilhões foram gerados pela produção de açaí, mandioca, café, cacau, banana, cana, dendê, abacaxi, arroz, feijão e outros produtos da região. Ao retirar o estado do Mato Grosso (MT) dessa equação — local que tem uma dinâmica agrícola associada fortemente ao bioma Cerrado —, a produção de soja, milho e algodão na Amazônia reduziria para R$ 19,8 bilhões.
Essa intensa produção de commodities agrícolas e agropecuária, entretanto, não se traduz em renda e desenvolvimento socioeconômico para as populações amazônicas — pelo contrário. Além de estar associada à desigualdade regional, quando avaliamos os dados de emissão do setor agropecuário na Amazônia, é perceptível que boa parte das práticas agropecuárias em curso ainda precisa reduzir significativamente a emissão de carbono e o impacto ambiental causado. De acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), em 2023, o setor emitiu cerca de 1,79 milhões de toneladas de carbono equivalente (MtCO₂e) na atmosfera. Em 2022, a marca foi de 1,74 MtCO₂e.
Aliada à transição sustentável no setor agropecuário, um dos principais caminhos para promover o desenvolvimento social e econômico no bioma é a valorização da sociobiodiversidade amazônica, mantendo vivo seus seres e a grande floresta de pé.
Estudo desenvolvido pela organização WRI Brasil junto a 76 especialistas de instituições científicas no Brasil, A Nova Economia da Amazônia aponta que manter a floresta amazônica conservada é uma grande oportunidade para o desenvolvimento e o crescimento qualificado e inclusivo no bioma. A pesquisa analisou modelos econômicos para compreender o atual cenário econômico da Amazônia Legal e traça diferentes cenários para 2050.
Com a Nova Economia, o impacto para a população regional seria de mais 312 mil empregos, com 833 mil novos empregos para o setor da bioeconomia — esse panorama considera a restauração da floresta ao invés do desmate. Como consequência, haveria maior geração de renda e mais justa distribuição de benefícios. Para o Produto Interno Bruto (PIB) da Amazônia Legal, seria pelo menos R$ 40 bilhões de injeção por ano, a partir de 2050. Apenas o PIB da bioeconomia aumentaria 67%, chegando a R$ 38,5 bilhões anual.
Na perspectiva ambiental, o Brasil finalmente alcançaria o desmatamento zero na Amazônia, recuperando, também, 24 milhões de hectares florestais — os dados da pesquisa também apontam para maior produtividade da terra, menor suscetibilidade ao estresse hídrico e menor perda da fertilidade do solo. No cenário de emissão de gases do efeito estufa, reduziriam 94% de emissões
Galeria de imagens da atuação do Projeto Rural Sustentável Mata Atlântica e Amazônia no Mato Grosso
A construção de um presente saudável: Projeto Rural Sustentável – Amazônia (2022-presente)
O atual Projeto Rural Sustentável – Amazônia nasceu com o propósito de fortalecer seis cadeias produtivas em três estados inseridos na Amazônia Legal: castanha do Brasil e pirarucu de manejo no Amazonas, cacau e açaí no Pará, e peixes redondos e café em Rondônia. Alcançando 49 municípios, contempla todas as etapas de produção, desde o cultivo e extração até o comércio.
Junto às 18 Organizações Socioprodutivas (OSPs), o Projeto busca potencializar o trabalho já desenvolvido pelos agricultores familiares, aquicultores e agroextrativistas das OSPs, com o objetivo de aumentar a geração de renda e a qualidade de vida local a partir de práticas produtivas sustentáveis e de baixa emissão de gases do efeito estufa.
Para isso, o PRS – Amazônia concilia estratégias de valorização da sociobiodiversidade do bioma com os saberes e as práticas produtivas já desenvolvidas pelos beneficiários, incentivando práticas da sociobioeconomia, o fortalecimento da organização, o manejo sustentável das áreas, a diversidade produtiva e a inserção em novos mercados. Um de seus eixos estruturantes é o protagonismo das comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas participantes, de mulheres e de jovens — essa trajetória é construída em conjunto, com muito respeito e em consonância com as demandas e os conhecimentos tradicionais nos territórios.
O Projeto incide diretamente em questões ambientais e climáticas contemporâneas. Inclui em sua atuação dois estados que fazem parte da Amacro — Amazonas, Acre e Rondônia — , uma das históricas frentes regionais de desmatamento no país. Ao fortificar a produção sustentável e responsável e colocar a educação acessível como centro dessa transformação, apoia diretamente na manutenção da floresta de pé e restaurada.
Saiba mais sobre o Projeto Rural Sustentável – Amazônia: https://prsamazonia.org.br/
Gostou do conteúdo? Confira essas matérias também!