Protagonistas na história das civilizações, os fluxos de água doce são indispensáveis para a sobrevivência humana. Rios, lagos e riachos estão presentes na economia, nas manifestações culturais, na construção social, na saúde da natureza e atravessam profundamente a política. Apesar da centralidade, os ambientes aquáticos são os ecossistemas mais degradados no mundo, mostram diversos estudos.
Ao analisarmos o cenário brasileiro, é possível indicar que essa degradação é marcada pelo desmatamento, incêndio florestal, barramento, contaminação por efluentes e efeitos das mudanças climáticas. Para reverter esse panorama, é preciso incluir os fluxos d’água no debate de conservação, promover a proteção legal das águas superficiais e subterrâneas — aplicando instrumentos eficazes de planejamento, gestão e governança — e cuidar responsavelmente das vegetações próximas aos cursos fluviais.
Incluir os recursos hídricos de água doce nas estratégias de conservação requer a garantia do acesso ao saneamento básico e ambiental, juntamente com a garantia dos direitos humanos de acesso à água em qualidade e quantidade adequadas e a redução da desigualdade social.
O Programa Rural Sustentável (PRS) entende que, para contribuir com a saúde dos ecossistemas terrestres e aquáticos, é urgente incentivar a agropecuária sustentável. O trabalho em conjunto com as populações atendidas pelo Programa é um dos princípios na sua atuação. Na Amazônia e no Cerrado — e ao longo de sua jornada, na Caatinga e Mata Atlântica —, concilia as especificidades de cada território com a implementação de tecnologias de baixa emissão de carbono, suporte ao extrativismo sustentável e incentivo às tecnologias sociais.
Nesta matéria, navegaremos pelas majestosas águas da Amazônia, refletindo sobre a relevância do bioma para a sociobiodiversidade e para o equilíbrio climático mundial.
A magnitude das águas amazônicas
A dimensão fluvial na Amazônia é caracterizada comumente por superlativos. De acordo com o Serviço Geológico do Brasil, nela se encontram a maior bacia hidrográfica e o maior rio do mundo: a Bacia Amazônica e o rio Amazonas. Habita, também, o maior arquipélago fluvial do mundo, Mariuá, com mais de 1.400 ilhas, de acordo com a WWF Brasil.
Dentre suas famosas águas, a Bacia Amazônica inclui o rio Negro – que nasce como Guaínia na Serra de Tunaí, na Colômbia, deságua no Amazonas, às margens da capital manauara, com suas águas escuras, coloridas por materiais orgânicos, barro, areia e rochas. Seguindo pelos afluentes à direita do grande rio, encontra-se o rio Juruá, o serpentinoso rio Purus e as águas do Madeira.
Toda a complexidade de áreas alagáveis no bioma formam a maior e mais biodiversa paisagem úmida do planeta — a ciência demonstra que um sexto de toda a diversidade vegetacional na região depende dessas áreas úmidas.
E tem mais: a floresta amazônica cria fluxos aéreos de vapor, os chamados rios voadores. Eles podem viajar até 3 mil quilômetros pelo continente, saindo da região amazônica e alcançando locais distantes — dessa forma, são fundamentais para a chuva na América do Sul, para a manutenção da biodiversidade e o equilíbrio climático. A nível de comparação, o relatório Futuro Climático da Amazônia, da Articulación Regional Amazônica, afirma que os rios voadores liberam um volume de água maior que o do próprio rio Amazonas.
Desde as montanhas nos Andes, os rios amazônicos de água branca nutrem o solo das várzeas e da vegetação margeada graças às toneladas de sedimentos que carregam. Essa passagem é fundamental para fertilidade desses ecossistemas, para o estoque de peixes regionais e para a dispersão de sementes. Depois de se encontrarem com os rios de águas pretas ou claras, alagam florestas e criam os igapós — ecossistemas com vegetações inundadas parcial ou totalmente.
2024 vem sendo um ano marcante para a disponibilidade hídrica na Amazônia. O bioma enfrentou recordes de seca crítica, baixa histórica no nível de água e altos índices de incêndio florestal. Leitos de rios, que antes eram navegáveis, secaram. Em outras localidades, como no município de Tabatinga, o rio Solimões atingiu o mais baixo nível até então — um de seus braços hídricos secou completamente, em Tefé. Além do impacto para as vidas não humanas dependentes dos ecossistemas aquáticos, muitas famílias foram afetadas.
Essas alterações hídricas afetam diretamente a vida de mais de 28 milhões de pessoas (IBGE), incluindo centenas de populações indígenas e tradicionais que dependem diretamente das águas amazônicas para se alimentar, garantir o sustento da família, manter as manifestações culturais e expressar suas cosmovisões.
Desenvolvimento socioeconômico com a conservação da vida amazônica
As mudanças climáticas, o aumento local da temperatura, desmatamento e incêndios florestais vêm alterando o regime regional de chuvas, o que interfere significativamente nos padrões naturais de inundações dos rios e na frequência e intensidade de secas severas na Amazônia.
Frear esses agentes emissores de gases do efeito estufa e de degradação, proteger as nascentes e os grandes fluxos d’água e conservar e recuperar a vegetação nativa são tarefas fundamentais para interromper e reverter o atual contexto ambiental e climático.
Consciente da responsabilidade ambiental do setor agropecuário, o Programa Rural Sustentável (PRS) trabalha em conjunto com a população amazônica por meio do Projeto Rural Sustentável – Amazônia. Sua relação com o bioma vem desde 2012, quando foi lançada a primeira etapa de atividades, por meio do Projeto Rural Sustentável Mata Atlântica e Amazônia (2012-2019).
O PRS sabe que a agricultura e pecuária são importantes atores ambientais e ocupam uma posição fundamental para a transição sustentável no setor produtivo. Trabalhando por uma agropecuária de baixa emissão de carbono, o Programa Rural Sustentável tem como missão promover o desenvolvimento social e econômico, alinhado com as necessidades humanas e da natureza, e garantir dignidade e qualidade de vida.
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