Diversa, a agricultura sustentável apresenta características distintas para cada estado, região e bioma do país. Ela é construída no dia a dia de quem produz, seja em campos, savanas, semiáridos, florestas e outros ecossistemas. É feita por pessoas assentadas, produtores e produtoras, quilombolas, indígenas, silvicultoras e extrativistas.
Respeitando as especificidades de cada território, o Programa Rural Sustentável (PRS) desenvolve práticas alternativas que buscam alavancar a produção agrícola de baixa emissão de carbono em biomas estratégicos. A partir dele, foram criados o Projeto Rural Sustentável – Cerrado, o Projeto Rural Sustentável – Amazônia (ambos em andamento) e o Projeto Rural Sustentável – Caatinga (finalizado em 2023).
Em direção ao fortalecimento da agricultura de baixo impacto ambiental e redução dos gases do efeito estufa, um dos principais eixos do Programa é o incentivo às agriculturas – principalmente a quem produz e vive daquilo que maneja. Algumas dessas formas de produção são a Agricultura Familiar, os Sistemas Agroflorestais (SAFs), a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta e as Tecnologias Sociais.
Projeto Rural Sustentável - Cerrado
Savana mais biodiversa do planeta e o berço das águas do Brasil, o Cerrado está presente em 11 estados, abrangendo quase um quarto da área brasileira, com uma extensão territorial de 2 milhões de quilômetros quadrados.
Nos 101 municípios abrangidos pelo Projeto Rural Sustentável – Cerrado, nos quatro estados de atuação – Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais -, é colocado de frente o desafio de mitigar as emissões de gases de efeito estufa (GEE) ao mesmo tempo em que se busca aumentar a renda e a sustentabilidade de pequenos e médios produtores e produtoras rurais. Na prática da agricultura, estes produtores encontram uma forma de produzir os próprios alimentos, garantir renda própria, comercializar produtos e gerar empregos no campo.
Além disso, Organizações Socioprodutivas (OSPs) apoiadas pelo Projeto também atuam no fortalecimento da agricultura familiar em suas regiões. Ao lado de todos esses trabalhadores rurais, é possível ir além da produção de frutas e verduras nativas, mas também ampliar os mercados de comercialização de produtos agroecológicos e estimular o consumo consciente. Tudo isso acontece com uma agricultura e agropecuária pensadas de forma sustentável, junto a tecnologias de baixa emissão de carbono como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF).
Alternativa para aumentar a dinamicidade e sustentabilidade produtiva, a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta consiste na produção sustentável que incorpora pecuária, agricultura e práticas florestais. Mais uma forma de mitigar e adaptar o campo às mudanças climáticas, a ILPF reduz o desmatamento e tem alto potencial de sequestro de carbono. Para o Brasil, esse é um caminho para recuperar os 69 milhões de hectares de pastagens com degradação moderada ou severa no país — informação do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig/UFG). Assim, possibilita o aumento da produtividade sem abrir novas áreas de vegetação nativa.
No Projeto Rural Sustentável – Cerrado, já são cerca de 3.700 propriedades rurais envolvidas, com mais de 500 Dias de Campo realizados, e mais de 15 mil participantes em ações de sensibilização, treinamento e capacitação, tudo para alavancar o uso sustentável da terra de 360 mil hectares de área total de propriedades envolvidas.
Para o Projeto, o agricultor é um dos protagonistas. “O PRS – Cerrado possui, em sua maioria, pequenos (as) produtores (as) rurais como beneficiários (as). Desde a seleção, buscamos ajustar as atividades para este público, que tem recebido muito bem as diversas atividades de capacitação, assistência técnica e fortalecimento de suas organizações socioprodutivas”, detalha a coordenadora de campo do Projeto, Marília Ramos. “Estar mais uma vez lado a lado com agricultores familiares e acompanhar os avanços em suas propriedades tem sido um enorme aprendizado”, complementa.
Projeto Rural Sustentável - Amazônia
O bioma Amazônia, conhecido pela sua vasta extensão territorial e rica sociobiodiversidade, também abriga mais de um milhão de produtores — dos quais mais de 89% são pequenos agricultores, de acordo com o Censo Agropecuário de 2017. Por lá, o conhecimento ancestral reflete nas práticas produtivas das populações locais, promovendo o uso sustentável dos recursos naturais e o sustento das famílias.
No bioma, o Projeto Rural Sustentável – Amazônia atua em três estados e é parceiro de 18 Organizações Socioprodutivas (OSPs), que trabalham com seis cadeias produtivas: no Amazonas, com a castanha-do-Brasil e pirarucu de manejo; no Pará, com o açaí e o cacau; e em Rondônia, com o café e peixes redondos. As organizações atuam diretamente com a agricultura familiar e com a aquicultura, atividades de baixa emissão de carbono e fonte de renda das comunidades indígenas, quilombolas e demais comunidades locais envolvidas no Projeto.
E foi pensando nas diferentes realidades que compõem a Amazônia que o Projeto tem buscado apoiar cada produtor e produtora, desde o cultivo até a comercialização dos seus produtos. São ações que buscam em conjunto alternativas para fortalecer a cadeia produtiva, para aumentar a renda e para ter maior acesso a mercados, sempre aliando produtividade à conservação do meio ambiente local. Nessa trajetória, também queremos criar alternativas que agreguem valor à produção local e que fortaleçam mercados diferenciados.
A coordenadora estadual no Pará, Carla Furtado, explica que a atuação do PRS – Amazônia parte do respeito às tradições locais e também da implementação conjunta de estratégias sustentáveis e inovadoras, que promovam o bem-estar social das famílias produtoras.
“Neste sentido, as ações do Projeto Rural Sustentável Amazônia vêm incentivando cada vez mais o fortalecimento da Sociobioeconomia nos três estados de atuação e nas seis cadeias produtivas. Essas atividades têm o objetivo de assegurar o desenvolvimento econômico, a proteção ambiental e a inclusão social, contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas e deixando um legado para gerações futuras”, finaliza.
É por meio desse conjunto de ações que o PRS-Amazônia busca construir, com as organizações, produtores e produtoras locais, um futuro mais justo, próspero e sustentável, para todos e todas.
Projeto Rural Sustentável - Caatinga
Um bioma exclusivamente brasileiro é a Caatinga. Semiárido mais biodiverso do mundo, faz parte da região com a agricultura familiar mais produtiva do país. É lar de 27 milhões de habitantes, com diversa dimensão social, humana e cultural, rica em formas tradicionais de lidar com o território e a natureza. E tem muito o que ensinar sobre adaptação e resiliência climática.
Considerando isso, o Projeto Rural Sustentável – Caatinga (PRS – Caatinga) trabalhou durante quatro anos (2019-2023) nos estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco, Piauí e Sergipe, em 31 municípios. Movido pela missão de reduzir as emissões de gases do efeito estufa e viabilizar a economia no bioma, sua força motora também foi o desejo de reduzir a pobreza local e contribuir para a segurança alimentar.
Aliada à percepção de uma agricultura regenerativa e sustentável, foram construídas Tecnologias Agrícolas de Baixo Carbono (TecABC) — como Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta e o Manejo Sustentável de Florestas — para mais de 1.500 famílias produtoras rurais do território. Em parceria com 20 entidades dos Arranjos Produtivos Locais, foram mais de 5 mil pessoas impactadas. Nesse cenário, as Tecnologias Sociais de Convivência com o Semiárido nordestino (TS-CSA) e o incentivo ao cooperativismo e à sociobioeconomia foram estruturais para concretizar a missão do Projeto.
Relevantes para desenvolver e otimizar a produção, fortalecer a autonomia da agricultura local e melhorar a qualidade de vida na Caatinga, as tecnologias sociais são instrumentos, técnicas e metodologias reaplicáveis, acessíveis e construídas de forma comunitária. Desenvolvidas pelos produtores locais e transmitidas por gerações, promovem soluções efetivas para transformação social, territórios sustentáveis e saudáveis e as seguranças hídrica, energética e alimentar.
Biodigestores, fossas jardim, dessalinizadores, as cisternas enxurrada e calçadão, ecofogões e os Sistemas Agroflorestais são exemplos de tecnologias sociais incentivadas pelo PRS – Caatinga. Além de reduzir os custos – promovendo acessibilidade —, essas ferramentas reduzem as perdas agrícolas, auxiliam no melhor armazenamento dos recursos naturais e da produção, fortalecem a qualidade do solo e, principalmente, apoiam a capacidade de resposta e proteção do agricultor diante de eventos extremos ligados à seca.
Ao final, o PRS – Caatinga evitou o desmate de 244,16 hectares (ha) no semiárido e reduziu cerca de 1.2 milhão de toneladas de CO2 (gás carbônico) emitidos na atmosfera. Para garantir a autonomia técnica no bioma e possibilitar a continuidade das práticas produtivas sustentáveis, 700 profissionais de Assistência Técnica e Extensão Rural foram capacitados em Tecnologias de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono.
“Nossos resultados, que superam todas as metas estabelecidas no início deste caminho, mostram que a percepção de que o bioma [Caatinga] tem papel relevante e estratégico na agenda ambiental estava correta. Mais que isso, os sorrisos, abraços e as histórias de desconfiança iniciais superadas ao ver áreas antes improdutivas se transformarem em segurança alimentar e aumento de renda, coletadas ao longo desses quatro anos, nos dão a certeza de que todos podem e querem contribuir para um planeta sustentável”, rememora o diretor do PRS – Caatinga, Pedro Leitão.
Fortalecer a agricultura de emissão de carbono rumo à sustentabilidade
Sendo uma construção conjunta, o Programa Rural Sustentável é fruto de parcerias que vão além das muito importantes tecnologias sociais, alternativas agrícolas, etapas de pesquisa e atividades de campo. É uma tapeçaria de histórias, transformações de vidas e um caminho de soluções para o presente e futuro. Nesta trajetória, os agricultores e as agricultoras são essenciais.