Representantes do Governo do Reino Unido, BID e MAPA prestigiaram a formatura dos novos profissionais na Caatinga
O futuro de uma Caatinga mais sustentável, com a prática de uma agricultura regenerativa e inclusiva, está mais próximo com a certificação de 375 profissionais como extensionistas rurais, capacitados pelo curso “Tecnologias Agrícolas de Baixa Emissão de Carbono Fortalecendo a Convivência com o Semiárido”. A formação foi promovida pelo Projeto Rural Sustentável Caatinga, executado pela Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), em parceria com a Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf). A cerimônia de formatura aconteceu no dia 6 de abril, em formato híbrido, com transmissão pela TV Caatinga, e nas primeiras 24h alcançou mais de 800 visualizações.
O evento, que certificou alunos nas modalidades Capacitação e Aperfeiçoamento, foi prestigiado pelos principais apoiadores do PRS Caatinga. Na ocasião, representantes do Governo do Reino Unido, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) falaram sobre a importância da qualificação de profissionais de assistência técnica, especialmente daqueles que atuarão em 20 propostas apoiadas pelo PRS Caatinga, beneficiando diretamente 5.500 agricultores familiares. Em maio, outros 300 profissionais serão certificados, na modalidade Especialização.
MAPA: Capacitação está alinhada a tecnologias difundidas pelo Plano ABC+
Fabiana Alves, diretora de Produção Sustentável e Irrigação do MAPA, destacou a importância do PRS Caatinga para os objetivos de mitigar as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) e promover adaptação às mudanças climáticas, além do combate à pobreza e disseminação das TecABC.
“Muito nos alegra que a maioria dos alunos, se não a sua totalidade, seja formada por técnicos que atendem a pequenos e médios produtores. A agricultura familiar mostra o seu papel e a sua importância, reforçando a necessidade de combate às mudanças do clima, promovendo o desenvolvimento sustentável – o que nós da Secretaria de Desenvolvimento e Inovação tanto trabalhamos com o Plano ABC e o ABC+”, disse Fabiana. E acrescentou:
”Por meio do Programa de Capacitação nós podemos afirmar que estamos fortalecendo a convivência com o semiárido, trazendo para essas famílias a oportunidade de continuar produzindo mesmo frente às adversidades climáticas que os senhores, antes de nós, de outras regiões, já conheciam e já sabiam lidar com elas”, complementou a diretora.
Governo do Reino Unido: Engajamento do pequeno agricultor é fundamental
O cônsul geral do Reino Unido no Recife, Graham Tidey, agradeceu o esforço de realização do curso e parabenizou os formandos. “É um momento fundamental nas suas vidas profissionais e pessoais, e que irá refletir no desenvolvimento sustentável da Caatinga”.
Tidey contextualizou o investimento do Reino Unido no PRS Caatinga como parte de uma longa trajetória de mais de 30 anos de transição para uma economia verde, situando o PRS como beneficiário do Fundo Internacional do Clima do Reino Unido, que trabalha combatendo a pobreza e as ameaças climáticas.
– É uma alegria trabalhar nessas duas frentes em uma região como a Caatinga, onde existem tantas pessoas que podem fazer mudanças enormes tendo uma capacitação como essa. O PRS Caatinga apoia novos modelos de produção agrícola baseados nas tecnologias agrícolas de baixo carbono. O Programa de Capacitação é fruto do nosso reconhecimento do potencial do bioma e da importância da contribuição dos agricultores da região para as mudanças climáticas globais, que vão acontecer em nível local, especialmente em um país do tamanho do Brasil. É importante que o pequeno agricultor esteja engajado –”, enfatizou Tidey.
BID: O campo é parte do processo de recuperação econômica sustentável
Luís Hernando Hintze, especialista do BID, parabenizou todas as instituições envolvidas no Programa de Capacitação, enfatizando “o esforço dos alunos, que fizeram do curso um sucesso”. Segundo o especialista, apoiar o Projeto faz parte do Programa Visão 2025 do BID, que busca promover a produção de alimentos aliada à preservação de recursos naturais e geração de mais renda para os pequenos agricultores. Hintze destacou a importância da disseminação do conhecimento para a mudança do padrão produtivo.
– Na minha opinião, o que torna o projeto mais atual e relevante é a importância da formação, da geração de conhecimento e da assistência técnica, aplicadas às práticas do campo. Tudo isso, aliado ao trabalho direto com os produtores do semiárido, une o conhecimento das tecnologias sociais já existentes com o que há de mais eficiente e moderno para minimizar o impacto e lidar com as mudanças climáticas. O Programa forma importantes agentes que irão passar o conhecimento de como produzir mais e de forma mais sustentável no Sertão brasileiro. Eu gostaria de ressaltar aqui a importância de projetos inovadores como esse, para transformação da sociedade, no longo prazo. E em especial, do papel crucial do investimento em capacitação e formação de agentes multiplicadores que vão ajudar na mudança do padrão produtivo -, disse Hintze.
O especialista finalizou sua fala afirmando que é uma honra para o BID participar de iniciativas que promovem, de maneira integrada, benefícios econômicos, sociais e ambientais, destacando que “o meio rural tornou-se um instrumento fundamental para uma recuperação econômica inclusiva e sustentável”.
Alunos comentam a importância do Programa de Capacitação para sua atuação
Os alunos Wellington Assis da Silva, Laelson Mattos, Valdeci Maria da Silva e Érica Priscila dos Santos Silva receberam dos professores da Univasf os certificados de conclusão de curso, como entrega simbólica aos 375 profissionais formados no Programa de Capacitação. Confira os depoimentos!
“Nunca é tarde para a gente buscar o nosso conhecimento. E se tem uma coisa que quando a gente tem e ninguém tira da gente é o conhecimento. Esse curso é uma soma muito grande para todos nós. E nosso Sertão vai agradecer muito por isso, porque todo esse pessoal que estará prestando serviço no campo vai ter uma utilidade muito grande. Obrigado por tudo!”, disse Wellington Assis da Silva.
“Quero agradecer ao PRS Caatinga, à Univasf, ao Instituto Regional da Pequena Agropecuária, à Rede das Escolas das Famílias Agrícolas, que me indicaram para fazer a formação. Para mim é de grande valia esse curso, como técnico agropecuário e extensionista rural. Todas essas práticas e tecnologias de baixa emissão de carbono vão agregar muito no dia a dia e no trabalho com as comunidades”, afirmou Laelson Mattos.
“Quero agradecer a todos que nos ajudaram. Eu, enquanto mulher negra, deficiente e quilombola, posso dizer que é muito bom poder fazer parte disso, para nós que estamos nos territórios há muitos anos, poder trocar esse conhecimento com a comunidade acadêmica. Estamos juntos nessa caminhada”, ressaltou Valdeci Maria da Silva, diretamente da comunidade quilombola de Conceição das Crioulas.
“Quero agradecer ao Serta e aos professores da Univasf por dedicarem esse curso a nós, pessoas que defendem a Caatinga e o meio ambiente. Foi um momento único. Esse curso de tecnologias de baixo carbono é muito importante para quem defende a natureza e o bioma unicamente brasileiro, que é a Caatinga, e para quem está trabalhando para evitar o desmatamento. Com esse curso aprendemos como trabalhar a agricultura sem prejudicar o meio ambiente e trabalhar com o bioma Caatinga sem desmatar. Quero agradecer a todos por esse momento, é um prazer imenso”, enfatizou Érica Silva.
Organizações de ATER recebem certificação do PRS Caatinga
Durante a cerimônia, o PRS Caatinga certificou organizações prestadoras de serviço de ATER – Assistência Técnica e Extensão Rural, cujos profissionais foram capacitados para propagar as TecABC nos territórios. Alguns representantes das organizações puderam falar da importância da qualificação e dos impactos na assistência técnica oferecida a agricultores familiares.
Geovane Xenofonte, do Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não Governamentais Alternativas (Caatinga) de Pernambuco, falou do sentimento de gratidão e da força de vontade dos alunos. “Quando falamos de 375 formandos estamos falando de pessoas que acordam muito cedo e se enveredam pela Caatinga adentro para construir conhecimento junto às famílias agricultoras. E esse processo de formação chega diretamente nas famílias”, disparou.
Ricardo Ramalho, liderança do Instituto Terra Viva de Alagoas, chamou atenção para produção de conhecimento em um bioma pouquíssimo conhecido, o que torna a iniciativa ainda mais relevante, na sua opinião. “Existe um ponto importantíssimo que é a confluência dos saberes acadêmico e popular. A sistematização dessas experiências ainda é muito pequena. E não adianta usarmos de outras experiências, temos de ter a nossa coleção de tecnologias, que são essas de baixo carbono, que são simples e ao mesmo tempo modernas”, declarou.
Com destaque para a participação feminina na agricultura, Aline Melo, do Serviço de Tecnologia Alternativa (SERTA), enfatizou que o processo formativo é importantíssimo em um bioma que apresenta escassez de tantos investimentos. “É no semiárido que a vida pulsa e resiste”, concluiu.
Uma parceria de valor: PRS Caatinga e Univasf
O Programa de Capacitação em Tecnologias Agrícolas de Baixo Carbono ofereceu três modalidades de formação – Capacitação e Aperfeiçoamento e Especialização –, que somaram mais de 800 alunos inscritos. Entre os alunos, cerca de 60 profissionais de ATER foram selecionados para apoiar o PRS Caatinga na implementação de Arranjos Produtivos Locais (APL) sustentáveis, em parceria com 20 organizações em cinco estados do Nordeste – Alagoas, Bahia, Pernambuco, Piauí e Sergipe. Após essa primeira oferta, a difusão de conhecimentos sobre tecnologias de baixo carbono segue sendo realizada pela Univasf, que está incorporando esses conteúdos no Mestrado Profissional em Extensão Rural.
“Essa possibilidade real de levar as tecnologias de baixo carbono ao semiárido foi por ousadia e determinação da professora Lúcia Marisy, que rapidamente se prontificou a coordenar esse esforço. Quero agradecer ao MAPA, ao BID, ao Reino Unido e à Univasf. Espero que a gente continue a servir essa região tão importante para nós no Brasil”, disse Pedro Leitão, diretor do PRS Caatinga.
A professora Lúcia Marisy, pró-reitora de extensão da Univasf e coordenadora pedagógica do curso, destacou a riqueza do processo formativo para todos os participantes. “Tivemos 13 professores empenhados nessa iniciativa tão importante no semiárido. A oportunidade de debater e aperfeiçoar práticas, aprender e se especializar foi algo valioso dos dois lados, para os extensionistas e para nós docentes e técnicos da Univasf”, enfatizou Lúcia.
O coordenador regional do PRS Caatinga, Francisco Campello, falou do projeto enquanto uma proposta desafiadora, uma oportunidade ímpar de ter dentro de um ambiente como a Caatinga, fragilizado no processo de mudanças climáticas, a oportunidade de qualificar técnicos e profissionais que atuam nas comunidades. “Estamos entrando com uma abordagem nova, de uma agricultura regenerativa de baixa emissão de carbono, fortalecendo a trajetória de convivência com o semiárido. Agradecemos aos nossos apoiadores por acreditarem nessa proposta. Como filho de professor, posso dizer que é uma das ações mais estruturantes e permanentes”, afirmou Campello.